terça-feira, 29 de março de 2011

os movimentos recentes da multidão na mídia

No primeiro semestre do mestrado produzi um artigo para uma disciplina relacionada ao jornalismo. Pesquisei arquivos da Folha de SP que tratavam dos manifestos em 1999 contra a reunião da OMC em Seattle; aquele acontecimento inaugural das lutas em rede, segundo Negri e Hardt e Lazzarato. Cheguei a uma conclusão pouco original: as mídias simplesmente não entenderam o que aconteceu na batalha de Seattle.


No entanto essa consideração permaneceu em minha pesquisa, hoje tenho mais argumentos para afirmar que a mídia por ser legitimadora do poder, simplesmente nega os movimentos da multidão. Poderia ser dito que com a revolução dos povos árabes e sua exposição massiva que a afirmação é errônea. Acho que não.

O que nós sabemos das lutas árabes redunda no senso comum, o que a mídia nos dá: o povo unido contra a figura carismática do poder. Um contra um, em conflito simétrico. A multidão não é una, mas sim o povo legitimado pela tradição. Um povo tem uma identidade, é fácil de o compreender. A multidão é monstruosa, compreendê-la exige um método, ou uma longa preparação.

Nada sabemos sobre a complexidade de grupos, demandas, lutas que são sobrecodificadas pela mídia na imagem (fotográfica) do povo. E agora a coisa fica ainda mais previsível: a luta do ocidente contra o oriente, a luta dos Estados dominantes contra o Estado autoritário. Mesmo quando o discurso se torna menos sacana, a história parece a mesma de sempre: a tomada de poder do Imperialismo estadunidense.

A mídia é conservadora, todo mundo sabe disso; mas temos que pensar o que significa esse “ser conservador”: ela não é muito inteligente, não entende as coisas? Ou como disse acima, tenta conservar o poder escondendo o jogo, deixando de lado a criatividade da multidão?

No dia 26 de março aconteceram os manifestos em Londres, com 500 mil pessoas. Coisa do tipo só nas manifestações de 2003 contra a guerra do Iraque. A mídia brasileira não tem falado sobre isso. Talvez por estar perto demais.

Talvez o conflito árabe tenha dado impulso para as manifestações. Todo acontecimento abre campos de possíveis, que são atualizados. As revoltas árabes nos dão de presente a prova que o desejo deseja mais que sua repressão, deseja sua potência, uma nova realidade. Mesmo a mídia não pode esconder que o poder mais endurecido pode ser derrubado. Como disse Lazzarato: nós não aceitamos as coisas como aceitávamos antes.

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