terça-feira, 3 de maio de 2011

A morte de Bin Laden e as lutas em rede

A mídia vampiriza o acontecimento; dá uma super exposição, dá a impressão de que ele é muito mais importante do que é; assim tem alguns dias de tema para seus receptores. Ela sabe vender o acontecimento. Foi assim com o tal do “casamento real”. Quanto à morte do Bin Laden, é o mesmo, vamos ver por quantos dias a mídia vai conseguir manter as pessoas interessadas.

Mas essa vampirização deixo de lado. Fico no que é dito: mataram o inimigo da América. A América una venceu este outro corpo também uno, o líder do terrorismo. Como sempre um contra um. A matemática mais simples; até as crianças entendem. É claro que a dicotomia seria mais visível se tivesse acontecido na era Bush. Duas figuras carismáticas. Dois odiosos. Um em nome do bem, o outro a encarnação do mal.

Pelo que nos é dito, ou melhor, imposto, a AL Qaeda é centralizada. Tinha um líder. Assim reproduzia uma estrutura antiquada. Negava o poder da rede.

O mais interessante é que todo esse joguinho que vende, obscurece o outro jogo. O Império está sob enfrentamento de rede de redes que não é composta de terroristas, isso há mais de uma década. E poucos entendem. A mídia até agora não entendeu as resistências, como poucos entenderam que o poder é também uma rede de Estados, corporações, ONGs, mídias, instituições supra-nacionais. E como dizem Negri e Hardt: contra uma rede apenas outra rede. É, é o pensamento que é lento, não a vida. Mais lenta que a mídia apenas a opinião do idiota, que, aliás, faz parte do seu discurso.

Essa rede – de insurgência – também sofreu com os atentados do 11 do 9. O estado de exceção criado após a queda das torres gêmeas aconteceu na mesma época dos dias de ação global, as primeiras lutas contra o Império, os movimentos de multidão, por outra globalização, os primeiros em rede com alcance e demandas globais. E claro, estes são menos potentes violentamente que o terrorismo. Mas são potentes, pois buscam a felicidade, a alegria contra o mundo de tristezas (fazendo distinção entre a tristeza e a alegria, terroristas e a América e os países dominantes se assemelham). São potentes, pois buscam uma democracia sem liderança, sem o corte entre dominantes e dominados, democracia de todos para todos; verdadeira democracia contra esse governo de poucos sobre muitos.

Os movimentos de multidão, sim, são efetivamente uma ameaça ao Império. Como foi dito acima: contra uma rede apenas outra rede. Mas fecham os olhos para eles e veem apenas o previsível.

As associações usadas como potência pelos alterglobalização, além de serem democráticas internamente, são impossíveis de deter. E mais, anunciam um novo mundo, pois não querem tomar o lugar da governança transcendente, mas usar sua própria forma e conteúdo como modelo para outra realidade.

Bin Laden tinha que morrer. Sua guerrilha dizia respeito a outro paradigma, antiquado. Se tivesse aprendido com os movimentos por outra globalização, com a EZLN, ou mesmo com a estrutura organizacional da internet, se tivesse dado atenção para as mudanças nas formas de produção, na estrutura do poder, todos em rede, sua morte não seria significativa. E talvez não seja, isso é a mídia quem diz. O tempo dirá, se a Al Qaeda era realmente centralizada em uma figura carismática, reflexo da modernidade, que felizmente já era.

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