domingo, 17 de junho de 2012


Roteiro de apresentação oral – Seminário – epistemologia comunicação

(primeiro trabalho sobre sociedade de controle)

Centro a apresentação nas considerações sobre o fim das disciplinas do Gomes. Primeiro trato de contexto: da transição da sociedade disciplinar para a de controle. Depois relaciono com o tema dos campos de saber.  Por fim, apresento a proposta de transversalidade. Esta é conceito de Guattari que não se refere à horizontalidade criticada por Gomes, e muito menos a verticalidade disciplinar.

Sociedade disciplinar, modernidade: uma das marcas é a importância do território e da identidade. Exemplos: território nacional, o povo como sujeito, com uma identidade. As disciplinas conceituadas por Foucault: família, pais e filhos. Escola, professor e aluno. Exército, oficiais e soldados. Fábrica: empregador e empregado.

 Segundo Deleuze, tudo é questão de território; podem ser pensados como territórios gêneros, raças, subjetividades, campos de saber. As identidades modernas desses territórios: gêneros: homem e mulher. Raças: brancos e outros. Campos do saber: objeto e método das disciplinas. Subjetividade: individualidade. Na maior parte desses casos, o aparelho de Estado codifica as singularidades em pares, nos quais um dos elementos é um centro de poder. As disciplinas de Foucault são dispositivos do aparelho em sua função de codificação, imposição de identidades.

Deleuze, sociedade de controle. Nesta o que se perde é o território fechado com suas lógicas, principalmente binares. Frente a isso, há discursos que tentam resgatar as velhas identidades; resgatar o que se perdeu; outros discursos tentam manter o que ainda está presente de rigidez. Para mim, essas teorias servem exatamente para isso: dar vida ao cadáver moderno. Também há discursos que ovacionam o múltiplo, a diferença, características da sociedade de controle.  

Segundo Deleuze, importante é não pensar o que é melhor ou pior; desejar o retorno das disciplinas ou ovacionar a sociedade de controle; importante é pensar nas potencialidades, na virtualidade aberta.

Um exemplo do conflito entre potência e tomada de poder na sociedade de controle: o hibridismo entre política e arte, a estetização da política. A estetização da política pode ser pensada como via dupla, uma molar e outra molecular. Molar e molecular são os elementos da cartografia de qualquer coisa. A molar corresponde à política dominante, dos partidos, aparelho de Estado. O que vemos na mídia, no uso do marketing nas eleições, dos showsmícios, nos discursos publicitários para angariar votos. O lado molecular, da interpenetração entre arte e política, vê-se desde o Maio de 68 em massa. Hoje se percebe isso na utilização de lógicas midiáticas e artísticas pelos movimentos de resistência, que são generalizados.   A crítica de Gomes interessa se pensada neste viés: a espetacularização das ciências, molar, o campo da comunicação como território no qual “tudo vale”. De um ponto de vista, molecular, a estetização se torna interessante pelas conexões entre arte, política, entre si, produzindo uma heterogeneidade transversal que foge do controle desde cima. No entanto, creio que falar em arte é perigoso, pois o campo apresenta o mesmo conflito: molar, o instituído, dominante, não político, ou mesmo o discurso clichê da arte como expressão da liberdade; molecular, um devir arte da política e da ciência, que não concerne à arte como estado; na construção epistemológica creio que deve ser buscado outro termo pra definir a expressão em jogo. 

O molar pode também ser referido às identidades de sujeitos, típicas da sociedade disciplinar, e também, as identidades das minorias recém incluídas. No entanto, penso a oferta de subjetividades pela mídia como molar, pois serve ao poder, que é a molaridade mais expressiva. O lado molecular, no contexto pós, seria a possibilidade aberta de experimentações de dessubjetivação, que não se referem à desterritorialização constante pela máquina massmidiática. Penso também que a desterritorializaçao já é potente pela própria descoberta de que mudanças são possíveis. Mas se faz necessária uma cartografia das subjetividades de resistência. Um exemplo é a busca de sexualidades em devir pela crítica Queer; subjetividades que não concernem ao homossexual hetero, aquele que busca direitos heterossexuais: ter filhos, casar.  

Relação entre disciplinas, fim dos territórios e epistemologia: Gallo (1995) relaciona campo de saber e o conceito de disciplinas de Foucault.  Disciplina nas ciências é delimitação, hierarquização e exercício de poder. Opõe o paradigma arborescente, hierárquico, que se refere à disciplinarização, ao paradigma rizomático, no qual qualquer conexão é possível.  
Gallo, então, faz sua proposta a partir da queda das barreiras das disciplinas no campo de saber:

transversalidade entre as várias áreas do saber, integrando-as, senão em sua totalidade, pelo menos de forma muito mais abrangente, possibilitando conexões inimagináveis através do paradigma arborescente. (GALLO, 1995, p. 10)


A transversalidade foi pensada por Guattari em sua experiência no campo psi. Segundo o autor, a verticalidade institucional rege as relações, desde cima. Um sistema centrado, com regras duras, fechado em si mesmo, para poucos. O autor não vê a horizontalidade como opção. Nesta todos são iguais, as relações são planificadas, homogeneizadas, e nada é produzido: horizontalidade é “uma certa situação de fato em que as coisas e as pessoas ajeitem-se como podem na situação em que se encontrem. (GALLO, P. 10)

A crítica de Gomes, como já dito, interessa se pensada como crítica a horizontalização das ciências: a lógica do “tudo vale”, e seus efeitos como a espetacularização, a tomada de poder por lógicas massmidiáticas.  Fruto da pós-modernidade, a espetacularização é uma das capturas pelo poder.  

Outros exemplos de transversalidade: verticalidade dos partidos, sindicatos, todos centrados, com posições hierárquicas que seguem uma ordem dada. Transversalidade: nos movimentos por outra democracia: em assembleias, em que todos podem se expor e decidir, nos quais não há hierarquia, mas nem desordem. As regras são estabelecidas por consenso. Horizontalidade acontece nos dois modelos: da rua, dos corredores, nos quais os sujeitos assumem posições de igualdade, não há decisões políticas, sejam transversais ou verticais. Outro exemplo: a ideia de povo é vertical, povo com uma identidade tendo o Estado como centro decisório. Massa é noção horizontal, nela as diferenças são apagadas, e na massa nada se produz. Multidão é conceito transversal. Multidão é rede de singularidades que produzem em comum mediante colaboração e comunicação.

No entanto em minha experiência empírica nos movimentos de ocupação, noto que a verticalidade aparece como fantasma: tomadas de poder, como quem fala melhor em público, ou tem mais tempo para participar das atividades abrindo espaço para práticas hegemônicas. E mesmo fantasmas modernos: os mais velhos, os mais escolados.  A horizontalidade é importante. Em ambientes fora dos programas há possibilidade de fala daqueles que não se permitem a fala nos ambientes transversais. Ali nascem ideias que podem depois ser retomadas nas atividades, como as assembleias e redes de comunicação, etc.   

Nenhum comentário: