sexta-feira, 28 de julho de 2017

manifesto pelo estupro corretivo de machos


...........................................................
Os antidepressivos talvez sejam uma forma de controle, criar uma manada feliz; é, os trabalhadores 10 horas por dia na empresa, sorrindo, felizes, a utopia do capitalista. O álcool devia ser o antidepressivo da época em que a fábrica era o centro da produção. Trabalhavam tantas horas e depois iam pra casa e bebiam, o público e o privado separados. Agora, como não há mais separação, dão antidepressivos pra todo mundo ficar felizinho o dia todo, mesmo se fodendo. E o mapa está pra ser montado, as linhas traçadas. A hipocondria pode ser uma neurose presenteada pela área da saúde, uma forma de controle, como pode ser um devir. Como devir, na hipocondria, pela percepção molecular, dá pra viver uma relação com o corpo especial; dá pra ter afecções e percepções que dizem respeito à doença. O hipocondríaco delira, se sente como estivesse sofrendo das piores doenças possíveis. Ele não tem a enfermidade, mas se sente mal como se tivesse. E não falo nos sintomas manifestos, mas na afecção que acompanha quem está doente. Quando ele delira que tem aids, ele não manifesta os sintomas da doença (mesmo que as vezes manifeste), mas se sente mal por pensar que a tem. Isso é importante, sentir algo impossível pra si, só possível no delírio. Algo parecido com os sonhos, melhor ainda, os pesadelos. Ele sonhava que ia ser enviado pra prisão. Ele sabia no sonho muito bem o que o esperava: ia virar a menina da turma no presidio e não tinha o que fazer. Toda essa situação, no sonho, lhe impunha um afeto muito forte, muito real, cruel. Ele nunca foi nem vai ser preso em vigília, mas a partir do sonho... o sonho lhe permite entender como um preso se sente. Não é essa a importância da arte? Ter percepções e afecções impossíveis pra certas subjetividades, formas de vida. A arte ajuda a conhecer o mundo, também das afecções. O delírio da droga, sua importância, é exatamente essa.
.............................
Sim, há formas de vida, vitalismos, formas especiais de vida por toda a parte, mas mesmo assim.... todos se sujeitam o tempo todo pra manter um mínimo de dignidade, têm que aceitar muita coisa pra continuar vivendo: trânsito opressor, trabalhos mal remunerados, dinheiro vindo de pessoas asquerosas, lutar por certos direitos contra pessoas asquerosas como político, cumprir com os deveres, acreditar em direitos. Mesmo coisas que parecem banais podem ser frutos do controle: escovar os dentes, limpar a bunda, ter uma conta em banco, receber ligações estranhas, dizer: “bom dia”, “olá”, “parabéns pra você”, “eu pago mês que vem”, alugar um apartamento, comprar um carro, ganhar uma bolsa, comprar um seguro de saúde, ir no supermercado, cumprir horários, mentir que está sendo fiel, ficar paranoico ao subir o morro, filas, filas e filas, comer bem, foder bem.
............................
É interessante que esse é exatamente o discurso que sempre ouvi dos punks, os punks nas revistas, nos documentários, nos shows, os punks nas ruas, meus parceiros. João Gordo se tornou o maior punk do Brasil já que era o punk mais letrado, ele terminou parte do segundo grau. E esses punks da rua, com 20 anos e só quinta série, meus amigos, eles sempre falavam isso; diziam: é cara, a gente tá dentro do sistema, a gente arruma grana... é, a gente às vezes tem grana, e vai no super, naquele grande ali na Rua Riachuelo, e a gente escolhe uma massa e entra na fila; é, não tem como estar fora do sistema. É interessante que depois de ter terminado o doutorado, de ter escritos muitos livros, de ter um conhecimento de certa forma bom de alguns caras difíceis de ler, depois disso tudo.... Bem, tudo isso me fez entender a importância do posicionamento punk, me fez entender os punks, me aproximar deles. Eles dizem: você está completamente fodido por dentro e por fora; não há muita diferença entre ser currado e pagar a conta num restaurante. Você luta... não, você não luta, você mendiga, chafurda o tempo todo pra conseguir quase nada. Um pouco melhor, um pouco mais de dinheiro, de direitos, sonha com outra vida, mas é a mesma vida, não consegue pensar em uma vida realmente diferente. O Punk desletrado entende a vida, entende a outra vida, a enxerga como poucos.
.....................................................
Sim, você sacraliza o cú, que não difere muito da boca, do dedão do pé, é só parte do corpo. Ser currado por trás não é nada, e pode e deve ser gostoso. Se a tua mãe dá o cú, se a tua mulher dá o cú, se a tua amante dá o cú, se a tua filha dá o cú.... o que tem de feio em dar o cú? Melhor um pau, um dedo, um braço no cú – um pau limpo, um dedo limpo, um braço limpo – do que um pedaço enorme de merda. Você não chupa dedos? Você não mete a mão no pau e depois passa no rosto? Não limpa a testa com o braço? Mas você não faz isso com merda; não vê problema em sair merda do cú e acha o fim do mundo um pau no cú. Você não dá o cú, já que acha que dói e é imoral, mas aceita numa boa entrar numa fila no banco, abrir uma conta no banco, pagar contas, se foder todo o mês, odiar a sua vida e só conseguir se sentir bem com uma garrafa de uísque, sabendo que vai se foder no outro dia com a ressaca, que é só moral.  Ah, você não dá o cú, já que vão te chamar de viado; vão rir de você. Só que a tua esposa ri de você, os teus filhos, os teus amigos, o cara que te atende no bar, todos riem de você e você ri deles; todos são uma piada pra você e você sabe que é uma piada pra todos. Você não dá o cú pra não se sentir humilhado, pra não se sentir menos homem, pra não sentir vergonha. Mas o que o Punk diz? Você não é homem na relação com o patrão e os que estão acima de você no trabalho, você é um escravo; você abaixa a cabeça facilmente pra manter o emprego, e tudo isso não é diferente de ficar de quatro. Você se submete ao gerente do banco, ao policial, aos políticos que vota, você é sim um submisso, um fraco, você é a ralé; a única diferença é que você tem um carro e uma casa, ou seja, você é um submisso, alguém da ralé, mas com adereços. Você tem um pouquinho a mais, e esse pouquinho a mais faz você pensar que não está levando no cú; só que isso é ilusão: “caminhe na faixa” não é diferente de “se ajoelhe no altar”, que não é diferente de “se sente na mesa de jantar” ou “se sente como uma pedra por mais de oito horas por dia na mesa de trabalho”, e tudo isso não é diferente de: “se abaixe que vou te currar”. Só que tem gente que dá o cu com prazer; parabéns a eles, são dos meus; mas ninguém se submete no trabalho a vida toda sentindo isso como algo prazeroso.   
................................
Deveria rolar estupros corretivos de machos, por gays, mulheres e lésbicas. Melhor, sem violência, eles deveriam ser fodidos por trás como um gesto de amor, com carinho, de uma forma que eles gostem. O machismo em parte seria abalado; e mais, o território da sexualidade, dos prazeres seria aumentado, o cú estaria em jogo. Preto só se fode, mulher se fode, gays se fodem, todos se fodem só por serem quem são; e não é metáfora, é ser fodido sim, dá no mesmo; e é pior já que são fodidos por serem minorias. Na cadeia você leva no cú uma vez por noite, digamos, depois de um tempo lá dentro; um preto sofre 24 horas por dia a vida toda, suas moléculas são fodidas sempre, desde o nascimento. Um homem fode a esposa, os filhos, quem está abaixo na hierarquia social, por trás com dor, mas diz que é um gesto de amor. 
..................................
O primeiro gesto paterno e materno – e não importa qual pai for, qual mãe for, enquanto existirem pais esse gesto se mantém – é obrigar alguém a nascer, em determinada família, com seus valores, em determinado país, neste mundo, ainda mais como ser humano. Não vejo motivo de alguém ficar feliz por ser humano. A luta pela vida, o amor pela vida, como conceitos do senso comum, são palavras de ordem. Claro que amor e vida são conceitos reinventados por muitos coletivos, artistas, teóricos, por muita gente comum em banheiros públicos de casas noturnas. “Eu queria ter apenas um buraco, e não uma boca e um cú”, disse o pai dos Punks, Bill Burroughs. Mas o corpo humano é essa coisa organizada, estratificada, e isso vão te dizer a vida toda, que o corpo é isso o que todo mundo vê, o bom senso. O corpo é reinventado, em bares, ruas, okupas, na arte, na teoria. Há uma luta contínua pra produzir diferença, a linha de fuga não é fácil de ser traçada, e mesmo traçada, pode falhar. Mas e aqueles que não querem lutar, mas não querem também se submeter, os que nem queriam ter nascido?
.................................
Dar o cú é um afeto, uma sensação; o problema é quando dar o cú se torna uma questão moral, que atinge os machos, os machistas. Pra eles dar o cú é se submeter a um homem, é se tornar uma mulher. Sim, “como eu sendo um homem permitirei que me vejam como um ser baixo, vil, fraco, de segunda categoria, como uma mulher? ” Dar o cú não mata, não põe na prisão, mas agora se o cara decide parar de se submeter ao chefe, ao político, ao policial, às leis desumanas, o que vai acontecer? Vai se foder e a foda vai ser pior do que ser currado por trás. Mas então parece que ele gosta disso, de ser fodido por quem está acima dele, tanto que não faz nada contra, nada. Na prisão é isso: você tem que se submeter, na boa, dar o cú na boa, ficar na sua, aceitar as regras, daí você continua vivo e de repente arranja um namorado, daí não tem mais que dar o cú pra todo mundo. Isso não é a vida na sociedade, se foder caladinho, calmo, pra não doer tanto? Você vai se foder o ano todo, mas vai ter quinze dias de férias; daí no fim da primeira semana diz: não aguento, tenho que voltar pra prisão. Sim, a praia é tipo o pátio da prisão, mas você gosta na verdade do endurecimento máximo. Quando a criança se apaixona pelos pais, é exatamente isso, se apaixona pelo mais forte, a quem vai ter que obedecer. É como o currado que se apaixona pelo currador. Se você é fodido por todo mundo na cela e aparece alguém que diz: “eu vou cuidar de você, se você for minha gatinha”, como não se apaixonar por ele?
..................................
Eu sou fodido, então vou foder. Busque o mais fraco, sempre aparece alguém mais fraco. Dá no mesmo, é como se tornar alguém mau como os curradores da prisão; não é essa a grande função da prisão, criar caras maus, que encaram todas? Após anos em casa a gente aprende como se tornar um bom cidadão, a casa é um espaço de formação, a prisão também. O controle em todo lugar, sempre, em tudo e todos. Os olhos dos outros, meu olhar pra mim mesmo. Talvez as regras dos bandidos sejam menos duras, apenas mais violentas.
.......................
O okupa é alguém que se quer pobre, cria valores diferentes. Odeia, não suporta a classe média. A classe média se acha letrada já que conhece todos os termos, jargões, conceitos impostos desde cima; acha normal a espetacularização da política, do Estado. O capitalismo nunca é contestado. Os okupas não existem pra classe média já que contestam os valores médios, e a classe média não quer ser contestada. Não houve mudanças nas lutas desde 2011, dizem, já que se interessam só pelo Estado, e como esse Estado lhes deixa com mais conforto moral e financeiro. Não estão nem aí se os ânimos, as subjetividades dos coletivos mudaram, se novas formas de luta apareceram. Querem o Estado, sempre Estado, e quem não quer Estado é louco. Feliz com sua segurança, a segurança da prisão, o classe média é tipo alguém com dinheiro na prisão, não vai ser morto nem currado desde que pague, tenha dinheiro pra pagar sua segurança; mas continua a ser um preso, tem que aceitar as regras, senão vai virar uma mulher. 
............................................................
Os hippies ainda acreditavam que dava pra cair fora, tentaram criar suas comunidades. Os okupas mostram que não tem como sair fora, então experimentam desde dentro. Viver com suas próprias regras, na cidade? Impossível. Se animalizar numa floresta? Suicídio? Como a morte ainda é vista como algo negativo, sobram as linhas de fuga, que é o sentido da vida, é a vida, a linha de fuga é a vida. A submissão é a morte em vida, as linhas de fuga são traçadas pra que a gente não morra.     
..........................................
Os presídios são um tipo de espaço, mais um tipo, dentro de uma prisão enorme, a sociedade. O presidiário não está nem aí se vai voltar pra prisão, já que a prisão é a vida, e ele sabe bem disso. Ele que sabe, é sua sabedoria: se socializar, viver em sociedade, é se sujeitar e sempre, com muita dor. A criança ama seu cercadinho e depois seu quarto e depois sua casa e depois se sente naturalmente bem na classe, no cercado do recreio e depois conhece as ruas e sabe caminhar na faixa e depois entra facilmente no jogo adulto, do trabalho. Tudo igual e sempre: úteros, cercadinhos, quartos, salas, casas, ruas, escolas, cidades, empresas, o leito de morte no hospital, o carro, o supermercado, o banco, a loja, o shopping, o restaurante, o hotel, o motel, a cidade de turismo, a praia, o posto de gasolina, a loja de conveniência, o sexo, as relações entre gêneros, entre idades, classes, raças; tudo tão igual, e sempre.... Isso é assim já que encontraram a forma certa, eficaz, perfeita pra bem viver? Ou é uma coisa simples e fácil, mais simples e fácil de controlar todos? Simplificam a vida ao máximo já que é a forma mais fácil de submeter. Ratos na gaiola são mais fáceis de serem controlados do que inúmeras espécies na floresta. Quem controla uma floresta? O tempo, as árvores, certos grupos mais fortes? Há grupos mais fortes na floresta?  
.............................................................
E ainda somos modernos, radicalmente modernos? Há algo além, e nomeado, além das velhas dicotomias? Esquerda e direita, mais esquerda e mais direita, há algo além disso? Prazer e dor? Sonho, vigília? Loucura, sanidade? Idiotias e inteligência? Esse algo além, existe? É nomeado, afirmado, buscado? O controle é criação de um mundo rígido, mas simples, tipo arquitetura moderna funcional.
.............................................................................
A arte é caótica, todos sabem disso, mas ela na verdade é um elemento de bom gosto, que diz respeito à subjetividade burguesa; é um caos a ser vendido como espetáculo. O gay era caótico, barulhento, esteticamente estranho; hoje os gays são alvo de consumo, o mesmo com os negros, mulheres e outras minorias. O capitalismo quer consumidores e produtores, importante é a grana, que todos se submetam e consumam. O capitalismo reúne todos, todas as subjetividades diferenciais, e cria uma identidade única: o consumidor.  Dar o cú vai ser a próxima moda.

......................................

sábado, 15 de julho de 2017

belas vidas; vidas especiais

........................................
Eu tive amigos com belas vidas. Não eram bons alunos, mas sempre passavam de ano; eram mais calmos, namoravam firme meninas. Sim, se drogavam mas sabiam a hora de parar. Se pintava muita cocaína na banda arranjavam desculpa e iam pro interior visitar os avós. Como não queimavam o filme, os pais davam dinheiro, e isso ajudava em tudo, principalmente em conseguir as minas que não eram caídas. Uma mina, que não tava estudando, que bebia vodka na rua, de dezesseis anos – que podia ser a paixão do garoto skatista que toma todas –, esses amigos de belas vidas nem olhavam. Eles – os da bela vida – tavam nos mesmos ambientes que os malucos: Oswaldo, Lider, Porto de Elis, Araújo Viana, CB. Não era difícil de ver eles com o nariz sangrando, de ver eles com os olhos injetados, de ver eles sorrindo muito loucos; mas só que na segunda de manhã, bem, eles tavam na sala de aula. Entraram cedo na universidade e a partir daí viraram adultos, pessoas estudiosas e sérias, a carreira deles começou aí. Sim, ainda, faziam merdas, mas não se afundavam nelas. Belas vidas, de experimentações, loucuras, mulheradas, mas também de estudos, estudos sérios, que levaram eles pra carreira bem sucedida. Uma vida com belas histórias pra contar pros filhos, mas também com histórias especiais pra lembrar com os amigos no sábado de noite. Belas vidas, mas não necessariamente especiais. As vidas especiais são aquelas que se atualizam de alguma forma na arte. Muitos que escrevem sobre elas, viveram essas vidas. E isso não é algo positivo, de forma alguma; quem gostaria de levar uma vida especial como: a de Jean Genet, o prisioneiro gay? Ou a de Bukowski, o pobre alcoólatra? Ou a de De Quincey, o viciado em morfina, paupérrimo? Ou uma vida como a de Dean Moriarty, o viciadão, morto muito novo? Ou a de Carl Solomom, gay, louco, interno de manicômios? Ou uma vida como a de Dee Dee Ramone, quinze anos, viciado em morfina, michê? Ou como a de Edie Sedgwick, viciada, morta muito nova? Ou a vida da trupe de Miguel Piñero, gays, michês, prostitutas, viciados, mortos por overdose, cirrose, aids? E sim, todos esses foram imortalizados por fazerem arte; mas e aqueles que levam vidas parecidas mas não produzem obra? Os caras da ralé, exatamente os ídolos desses que viraram ídolos que citei acima. Quem gostaria de ser como eles, ser a ralé? Talvez apenas eles mesmos, aqueles que vivem essa vida já que é a única forma possível de vida antes do suicídio.
.........................................

Na adolescência, ficava puto já que nunca ganhava nos jogos tipo General, Poker, War. Meus amigos sempre ganhavam já que eu era o mais novo, eles tinham cinco anos a mais do que eu. Saquei que não tinha como vencer, como disse, eles eram bem mais velhos, e, então, vi que a vitória em um jogo não significa nada; é só um jogo. Daí comecei a fazer jogadas especiais, jogadas malucas, ousadas. O skate é isso, pra quem não compete; o cara só busca uma manobra legal. Pular mais alto do palco num show, isso é legal, ousado; como outras coisas idiotas, mas perigosas: beber de uma vez um quarto de uísque; fumar de uma vez um baseado enorme, em um pega; tomar elixir paregórico e vomitar, tomar de novo e vomitar, tomar de novo e vomitar; engolir caixas de estimulantes mesmo que dois comprimidos fossem mais do que suficientes; ter a infeliz ideia de meter uma quantidade enorme de pó embaixo da língua e depois fritar na cama. E tudo isso.... bem, são jogos, brincadeiras de garotos. Só que o cara vai ficando mais velho e tudo fica mais perigoso; pouquíssimos seguem na vida. O gênio do som de Manchester, um idiota, com muito estilo, ele diz: é, me deram uma grana pra gravar um grande disco, mas pra que fazer isso? Daí ele pega toda a grana e compra em crack. E o importante é isso, a loucura e não uma carreira de sucessos. Se faz arte não pra ser alguém de sucesso – apenas uma pessoa boba pensaria que se daria bem por fazer arte, poucos conseguem. Legal é não tentar ser um artista bem-sucedido, mas, sim, ser louco como muitos artistas, e isso já é arte. E quando se faz esse tipo de arte... bem, o cara faz já que não dá pra fazer mais nada. “Eu vou tomar um jeito na vida a partir de agora”, essa deve ser a máxima dos perdedores que se negam a ser perdedores. Em o Homem do Ano, o filme, o personagem principal entra num jogo que o leva cada vez mais pra baixo, exatamente quando decide se tornar um cidadão de bem. Renton em Trainspotting diz ao longo do filme que queria ter uma vida de bom cidadão. Dean Moriarty tentou muitas vezes ser um bom pai. Burroughs largava a morfina, mas continuava na loucura, tomando todas as outras drogas; ele era mais inteligente, entendia como as coisas funcionam. Um amigo meu de cinquenta anos tava em uma clínica e o pessoal dizia pra ele, os enfermeiros, eu mesmo dizia pra ele: cara, você tá velho, a gente sabe que você não vai parar, mas faz a loucura sem queimar o filme, e ele não conseguia não queimar o filme. Muitos pararam sim... Mas quantos morreram? E era isso, é isso: a droga ou a morte. E na real, quando a morte chegar, que chegue. Um dos músicos dos Dolls sai da clínica e compra na hora uma garrafa de uísque. O tio, meu vizinho aqui da banda, na Cidade Baixa, ele é alcoólatra, passa o dia sozinho, quieto, na dele, bebendo sua garrafa de canha com refri. Ele vai pra clínica com frequência, vai e volta. No dia que ele sai da clínica, compra garrafas de Sete Campos e mistura com refri. Bukowski quase morreu já que teve uma séria hemorragia no estômago; e daí o médico disse pra ele: mais um gole e você já era. Um mês depois tava bebendo como gente grande.

domingo, 9 de julho de 2017

idiotices perigosas, mas com estilo


Coisas idiotas sempre rolam, mas coisas idiotas feitas por jovens mini machos são muitas vezes perigosas. Fazer uma coisa idiota e perigosa mas com certo estilo é o que chamo de sarcasmo:

O maninho tenta subir no capô de um carro em movimento e quebra a clavícula. O mesmo maninho manda um segurança se foder e todos os seguranças quebram ele.  

Um idiota coloca o dedo no nariz pra ver se tem pedrinhas de coca dentro; ele também mijava na mão pra tirar o cheiro de maconha.

Cheirou tanto que morreu, mas foi ressuscitado pelos paramédicos.

O carinha que quebra o para brisa do carro com a testa em um acidente, quase morre, mas só se preocupa em esconder o pó já que a polícia ia chegar logo.

Ficou cinco dias acordado, mas dormiu quando tava dirigindo e bateu o carro numa árvore. Acorda com a mão de uma mina afagando o seu pescoço; ela perguntava, a mina: você está bem? Também tinha um monte de gente em volta já que ele bateu na frente de uma loja de conveniência. Ele saca o que aconteceu; não pensa duas vezes: pega a máquina fotográfica que tava no banco do carona e tira fotos do carro; ele faz isso na boa e nem notou que tinha quebrado o nariz.  

Sete guris dentro de um carro em alta velocidade, o motorista freia de forma brusca no sinal vermelho e quase rola um acidente, e mais, conseguiu fazer isso ao lado de um carro policial; daí rola uma batida. A polícia diz pra galerinha acompanhar eles, tavam presos; um deles pensa: legal, a gente vai ser preso!

Subiram terça de madrugada o morro.

O carinha toma chá de cogumelo e resolve ir pra casa. Chega lá e tem visita, os amigos dos pais. Ele se direciona pra dar “oi” pra todo mundo, mas fica olhando o teto, já que o teto tava derretendo. Percebe o que tá rolando e sai correndo.

No alto da Duque, naquele bar só de traficante, os maninhos cheirados dão 200 gramas de fumo prum cara, pra ele vender. Esse cara vai vender na rua abaixo, mas quando volta, diz que assaltaram ele. Os maninhos ficam com cara de idiota.

Sete horas da manhã numa vila da Zona Sul, a gente fuma um baseado com os trafis e um deles nos aponta uma arma; a gente sorri e diz: legal cara, uma arma! A gente pode ver ela? O trafi deve ter pensado: eles são idiotas.

Ficou sabendo que Manson, o vocalista, tinha fumado ossos humanos. Foi numa vala de indigentes no cemitério, achou ossos; quando chegou em casa, triturou e fumou. 

Depois de três overdoses, ele sacou que podia tomar qualquer coisa, tinha corpo fechado.

Bêbado e muito louco deu um cavalo de pau numa ruela qualquer e quebrou uma roda; continuou, deu outro cavalo de pau, quebrou outra roda. O carro não andava mais. Acordou em casa, lembrou dessa história, mas não sabia se era real; olhou o carro e tava tudo na boa. Quando foi pegar o carro, viu que as rodas eram diferentes das antigas. Ligou pro mano, que disse: você trocou as rodas originais por velhas com uns caras duma oficina.

Agarra uma mina feia na casa noturna; tava tão louco que abraça ela, diz que a ama, leva pra casa e a come.

Comia a traficante pra ter pó de graça.

Entra no banheiro feminino e uma mina tava fazendo xixi; ela diz: não toca em mim; ele fica olhando. Depois dela mijar, ele a agarra e pede pra ela chupar ele; ela começa a abaixar a calça dele, que diz: gata, não faça isso, não chupe o pau de qualquer um num banheiro público.

Comeu a mina dum traficante. Dias depois tá na Osvaldo, tava lá bebendo em uma roda com uns manos, e ele sente uma explosão na cara e cai no chão atordoado; o trafi quebrou uma garrafa na cara dele.

Tava caminhando na rua de noite, vê uma mina e a agarra a força, ela deixa, mas depois sai correndo.

Bebe canha numa praça na frente do colégio Julinho junto com moradores de rua. 

Os gays velhos iam na pista de skate pra pegar os garotos. Uns da turma só davam uma banda com os gays, que ofereciam maconha, bira, pó; mas outros, faziam um programa completo. Com um programa já dava pra comprar rodas novas pro skate.

Não sabia em que bairro tava, não sabia quem era, e não tava nem aí.
                                             
Na casa de alguém, numa festa, entra no banheiro com duas minas, e eles ficam se curtindo. Uns caras que tavam na festa batem na porta e dizem: meu, você pode ficar com uma mina no banheiro, mas só uma. Vinte anos depois, o mesmo cara tava na fila do banheiro dum bar na Cidade Baixa; tinha essas duas minas na frente dele, e elas entram no banheiro, ele entra junto. O banheiro era grande, com bastante luz. A mais bonitinha se abaixa e faz xixi daquele jeito que elas fazem pra não tocar a bundinha no acento. Ele olha ela e ri, ela olha ele e ri. A outra fica mais de canto, mas tavam os três ali. Ele que era meio bobo beija a bonitinha. Ela diz de forma sacana: ai, o gatinho quer carinho. Ele diz: olha só, tá no início da festa, quero curtir mais um pouco, depois a gente faz o que deve ser feito.

Arrebentou a porta do ap já que tinha deixado a chave do lado de dentro. É, teve que arrebentar já que tava com duas amigas prostitutas e queria fazer a festa. Na mesma noite elas disseram: cara, a gente podia trampar juntos, a gente faz programas no teu ap, você cuida também da segurança, metade da grana pra nós, metade pra você. Ele não achou uma má ideia, mas era muito novo pra pensar em grana. 

Tava em uma festa, Cidade Baixa de novo, conversando com uma mina bem bonita. Ela diz: quero te comer agora; ele diz: aqui não rola. Ela diz: vamos pra tua ou pra minha casa. Ele diz: vamos sim, e vai ser demais, só quero resolver antes uns assuntos com um pessoal. Ela pergunta: você é viado? Ele diz: não aluga, a noite é longa na minha casa. Ela diz: não gosto de viados. Ele diz: ok, mas eu gosto. Depois disso voltou bravo pra casa sozinho, se perguntava: como uma mina tão bonita pode ser tão idiota?

Esfaqueou a namorada. Depois disso ela mostrava a cicatriz pra todo mundo e dizia com orgulho: isso foi uma prova de amor.


Naquele bar na parte alta do Centro, ele ia com a mina, eles tomavam umas. Como o bar era cheio de gente, os dois simplesmente saiam sem pagar. Só que um dia, nesse bar, ele cheirou uma paranga que tinha comprado ali no Mercado Público; ele cheirou no banheiro e desmaiou, acordou e caiu fora. Não sabia que veneno de rato era a nova onda.